A Criança e a Autoestima

A Criança e a Autoestima

Autor: Jon Talber

Um processo autônomo, como o gesto de andar, depois
correr, ou aprender a pegar, segurar alguma coisa, nada
disso requer inteligência, uma vez que são processos
involuntários, do mesmo modo que o são, o olhar, o
sentir cheiro, o escutar sem direito a escolha. Já
sabemos pegar nas coisas, de berço, e com o tempo, apenas
vamos aperfeiçoando a técnica, depois aprendemos a
dar nomes aos objetos que estamos segurando. E para
nada disso é requerida a inteligência, pois trata-se de
um mero gesto de repetição, imitação, assim como o faz
um papagaio, que é capaz de imitar sons, mesmo sem
saber o que significam.

Criatividade não significa estar apto a repetir, a imitar,
a decorar pantomimas para depois praticá-las como se
fossem habilidades. Podemos ter ideias, mas isso na
verdade reflete apenas uma diferente forma de se ver algo
já existente. Nesse caso, uma ideia anterior, segue
modificada, com aparência de nova, assim como
nosso comportamento, que se parece coisa nova,
quando na verdade, apenas o veículo que é nosso corpo
é novo, não os hábitos.A insatisfação e satisfação, opostos
de um mesmo estado, é a causa e efeito de toda ação humana.
É o que determina o que devemos ou não desejar, procurar
obter, evitar, criar nossos objetivos de vida. Também, a partir
destes dois pontos, que são pontos equidistantes de uma
mesma coisa, isto é, a busca por satisfação, todas as
personalidades humanas são criadas.

E disso também resulta a maioria dos estados emocionais do
homem. Tristezas e alegrias, melancolia e euforia, medo e
coragem, falta de confiança e confiança em si mesmo.
Também os motivos que causam cada um destes estados
nos indivíduos, estão associados ao desejo de obter
satisfação. Isso significa ser aceito, bem sucedido, bonito,
capaz, idolatrado, desejado, ter poder.

Compreender porque desejamos sempre mais que nossas
necessidades, liberta a mente da sede de poder. Assim,
ainda na infância, as frustrações dos adultos, educadores
involuntários das crianças, devem ser contidas diante destas.
Uma frustração adulta, quando exortada diante de uma
criança, sinaliza para a mesma, que aquele comportamento
é natural, que deve ser imitado. E embora intelectualmente
a mesma ainda seja incapaz de compreender o que está
acontecendo, os efeitos emocionais, tais como ansiedade,
inquietação, intolerância e irritabilidade, estes são de
compreensão imediata.

Confiança em si mesmo, é quando conseguimos enfrentar
nossos próprios medos. É o sentir-se capaz de superar
obstáculos que se apresentam como grandes problemas.
Isso se consegue quando se têm auto-motivação, que é um
sentimento de certeza interior. Certeza de que os problemas
podem ser superados, nunca pode existir no medroso, onde
lhe falta a confiança em si mesmo. Essa qualidade não é inata,
mas produto de aprendizado, com as pessoas que estão à
nossa volta.

Uma criança que apenas aprendeu a ouvir lamentações,
expressões de mágoas e ressentimentos, jamais terá forças
para enfrentar seus dilemas pessoais. Terá sua motivação
desviada para expressar os estados de apatia, frustrações,
coisa própria daqueles que fazem do seu viver uma central
para lamentações, que insistem em cultivar mágoas e
ressentimentos.

Sentir-se-á incapaz de realizar qualquer coisa, inseguro por
não se achar apto para nada, sequer para pensar com clareza,
e acabará por repetir as lamentações que lhe serviram de lastro
no passado. Desse modo, como a auto-piedade se torna seu
mestre psicológico, não terá forças para reagir diante de
problemas, e procurará para sempre, depender daqueles que
resolvam tais coisas para si.

Do mesmo modo, quando se exige de uma criança a perfeição,
acabamos por criar um individuo isolado do mundo, demasiado
critico, medroso de ser repreendido, que mais se preocupará
com a opinião alheia, do que com sua própria felicidade. Terá
medo até dos próprios pensamentos, embora, na maioria dos
casos, jamais descubra a causa de agir dessa forma.

Mostrar desde cedo, com gentileza, sem exigências de perfeição,
que os problemas são questões que podem ser resolvidas, desde
que encarados de frente, com coragem, determinação e
conhecimento, ajudará a criança a preparar o seu emocional para
tais situações. De que adianta mostramos para elas apenas o
resultado emocional de um problema, através de nossas expressões
de raiva, de angústia? Isso apenas servirá para que se tornem
ansiosas, sem uma causa aparente, diante de qualquer situação,
mesmo de uma surpresa, ou alegria, ou uma simples espera por
qualquer coisa.

Do mesmo modo, fazê-las compreender que os erros, longe de ser
demonstrações de fraqueza ou imperfeições, servem como guias
para os acertos, capacitará todas elas para serem mais tolerantes,
mais flexíveis em seus julgamentos e expectativas, diante de
qualquer coisa.

E, finalmente, devemos nos lembrar de repreender uma falha com
orientação, e um acerto com incentivo. Lembrando que na
orientação, a paciência será fundamental para que ela apreenda
o que está sendo dito. Do mesmo modo, um acerto não se incentiva
com prendas ou elogios fáceis, mais com encorajamento, com apreciação verdadeira, com demonstração clara, inequívoca, de que aquilo
tem algum valor. 

Repetir procedimentos não é aprender. Um computador
já faz isso com perfeição, mas, é ele um bom aprendiz ou um mestre imitador? 

Fonte: www.sitededicas.com.br